Matéria com Otávio Leal (Dhyan Prem)
Menos angústia e maior capacidade de amar. Lucros sutis para modernos
acidentais afinados com a milenar filosofia do Oriente.
Não basta um homem e uma mulher unirem
seus corpos. As mentes e os espíritos devem estar juntos durante
o ato sexual. Só assim duas pessoas experimentam o encontro total
defendem os tantristas. Enquanto o poeta Manuel Bandeira dizia que "os
corpos se entendem e as almas não", os seguidores do Tantra
(filosofia do povo drávida, que viveu há mais de três
mil anos) sustentam que a alma não pode ficar fora das transas
amorosas. O prazer erótico, a um só tempo humano e divino,
deixa de ser um fim e passa a ser o meio de se alcançar a sabedoria.
Não apenas a felicidade. "Por isso mesmo, não se pode
reduzir o tantrismo a uma disciplina exclusivamente sexual. Seu objetivo
maior é a vida. Vida como sinônimo de energia e de consciência",
esclarece o professor Otávio Leal, 32 anos.
"O
Tantra é transformação. E uma alquimia que pode ajudar
os ocidentais, identificados com seus princípios, a desenvolver
a capacidade de amar. Amar de dentro para fora, sem críticas e
sem juízo de valor", considera Otávio. Embora reconheça
que não seja fácil alcançar tal capa¬cidade,
Otávio que é terapeuta corporal, tarólogo, astrólogo
e estudioso das antigas culturas da índia diz que, através
as colocações tântricas as pessoas podem descobrir
o caminho de chegaram a sua própria integridade. "Essa integridade,
que faz o homem sentir-se parte do cosmos, é o verdadeiro remédio
contra a angústia", acredita.
Otávio
Leal lembra que os conhecimentos tântricos vêm de uma extinta
e antiqüíssima civilização. “Por isso
mesmo, não podem ser utilizados pelos ocidentais sem a devida adaptação”,
coloca. Adaptar os ensinamentos aos jeitos e cabeças do Ocidente
é o que Otávio passou a fazer, desde que, há seis
anos, teve aulas de Tantra com mestres hindus. Ele explica que uma das
chaves para o entendimento desse pensamento está no conceito de
feminino. Nas religiões primitivas, a mulher era vista como um
ser divino. Era divina por realizar em si o milagre da criação.
"Nos grupos que deram origem ao tantrismo, as diferenças entre
o homem e a mulher nunca eram encaradas de forma competitiva", completa.
Assim
como os tantristas afastavam a idéia de superioridade ao considerar
o feminino e o masculino, também não colo¬cavam hierarquia
entre o físico e o espírito. Se' o contato com o divino
se dava através do espírito, o corpo funcionava como um
templo vivo, a moradia que Deus emprestou ao' homem. Portanto, não
pode haver fronteiras entre os dois. Assim, livres de preconceitos e das
restrições feitas às sensações, os
amantes podem experimentar o supremo prazer. "Prazer que facilmente
chega ao êxtase, entre outras coisas, por¬que o sexo jamais
está ligado à idéia de pecado, de coisa feia ou menor.
Para os iniciados no tantrismo, a vida sexual está na base da elevação
espiritual” diz Leal.
Ocultismo
Liberado,
o homem se sente no direito de explorar todos os seus sentidos. E nessa
exploração, o tato ocupa lugar destacado: a massagem é
vista como a terapia dos deuses e o carinho apontado como remédio
para todos os males. Lembrando que antigamente os mestres tocavam os discípulos
para iniciá-lo, para apresentar seu eu social ao eu superior. "Até
hoje, a massagem é sempre uma iniciação no oculto,
quer o massagista saiba disso ou não", explica Otávio
Leal. O terapeuta sugere que, mesmo sem ter nenhuma idéia de ocultismo,
os casais utilizem a massagem Ayurvédica que, devidamente adaptada,
foi batizada por ele de indiana.
A
primeira providência é reservar um dia para a mística
do amor. Nesse dia, a alimentação deverá ser frutas,
água mineral e mel, além do vinho que será servido
no momento certo. A comunicação ficará restrita a
gestos, olhares e toques. Ao levantar, cada um toma um banho, depois de
friccionar todo o corpo com uma esponja de algas e veste roupas confortáveis
de preferência túnicas coloridas (violeta para ela e vermelho
para ele) feitas especial¬mente para a cerimônia.
O
quarto, enfeitado com flores planta¬das, é arrumado pelos dois
com carinho e requinte. A cama receberá um lençol virgem
de cor rosa ou branco. E uma lâmpada azul permanecerá acesa.
Naturalmente, telefones e campainhas deverão ser desligados. A
audição será estimulada com música suave e
o olfato trabalhado pelo incenso de rosa ou sândalo. Também
a leitura na parte da manhã, deverá ser leve. Todo o dia
deve ser de calma, poesia e recolhimento.
Hora
mágica
Às
18 horas, o casal se preparará para a troca de massagem. Uma vela,
como símbolo da luz interior, é acesa. Livres das túnicas
e sentados frente a frente, homem e mulher se olham, um segurando as mãos
do outro. Cada uni faz um sinal vermelho entre as sobrancelhas do parceiro.
É o olho de Shiva, o símbolo que os ajudará a desenvolver
a percepção interior, a intuição, a capacidade
de sentir. Depois disso, os dois cortarão uma maçã
em pedaços bem pequenos, que colocarão numa tijelinha. Encherão
suas taças de vinho. A bebida será tomada aos goles, alternando
com pedaços da fruta. Bem devagar, o casal consumirá a fruta
e beberá todo o vinho. Está tudo pronto para o início
da massagem. Sentados sobre os calcanhares, ele e ela, de frente um para
o outro, olham-se de modo carinhoso e demorado.
•
Depois, ela se deita de bruços e ele se agacha, tomando-lhe os
pés os primeiros a receber os toques em suas mãos. Pressões
suaves promoverão o relaxamento dessa área.
•
Os toques sobem pelas pernas, cada uma massageada através de deslizamento
(as mãos escorregam pela pele).
•
As nádegas, tradicionais áreas de tensão, recebem
toques contínuos e circulares feitos com os dedos.
•
As costas são trabalhadas, um lado de cada vez. Atenção
especial à respiração do massagista e massageado.
Toques descontínuos acompanham a lateral da coluna vertebral. Sempre
de cima para baixo.
•
A mulher se deita de costas e o parceiro, alternando a pressão
dos dedos com o deslizamento feito basicamente com o dorso das mãos,
trabalha toda a parte frontal do corpo.
•
Por último, todo o rosto é trabalhado e a cabeça
recebe toques semelhantes ao famoso "cafuné".
•
Depois de aguardar um tempo para que ela, respirando suave¬mente,
absorva os bons fluidos do doce tratamento, os papéis se invertem.
Chega a hora de ele receber a massagem.
Vale
lembrar que, deixar a intuição e imaginação
guiarem as mãos dos massagistas é mais importante que conhecer
técnicas de massagem. "Aumentar a energia vital e tornar o
sexo mais criativo estão entre as boas coisas que o casal pode
conseguir através da massagem indiana", garante Otávio
Leal.
|