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Zen, a flecha para o auto conhecimento

Não pensar sobre nada é Zen.

Se compreenderes isso, andar, ficar de pé,

sentar-se ou deitar-se, tudo o que fizeres será Zen.

Saber que a mente esta vazia é ver o buda.”

Bodhidharma

A única diferença entre um buda e uma pessoa comum

é que um percebe isso, ao passo que o outro não consegue.”

Hui Neng

Esta mesma terra é a Terra do Lótus da

Pureza, e este corpo é o corpo de Buda.

Hakuin

O que é o Zen? A vida comum é Zen. O que você está fazendo agora é Zen. O que você pergunta é Zen. O que você é e está vivendo agora é Zen. Zen só não é tentar ser isso ou aquilo, mas de forma assustadoramente simples ser o que você É e fazer o que você faz.

Sentar-se em zazen, é Zen assim, como Buda sentou-se e observar os turbilhões dos pensamentos e quando a mente for percebida, isso é a consciência búdica. Simples e profundo como o haicai abaixo escrito por mestre Basho, um texto minúsculo e poético é o exemplo mais indescritível da profundidade e ao mesmo tempoe da simplicidade do Zen:

O velho lago

Uma rã dá um salto.

Plop”

O que mestre Basho está querendo dizer?

Que tipo de mensagem ou ensinamento pode estar contido nesse haicai?

A sua mente não faz a menor ideia, mas permita que eu lhe dê uma direção. visualize o que vou descrever: O velho lago.

Um pequeno lago silencioso, rodeado de pedras, árvores, pássaros e um absoluto silêncio... até que uma rã dá um salto. O silêncio fica em segundo plano e o ruído, plop é notado. após o plop, silêncio. O eterno silêncio é novamente percebido.

Isso é Zen: o sapo, o silêncio, o ruído plop e novamente o silêncio. Nada de crenças, debates, filosofias.

Assim, direto, assertivo, curto. Simples assim.

Muito mais uma mensagem de twitter com poucas linhas que um tratado acadêmico. Um telegrama e não uma Constituição nacional.

Mostrar o essencial, a sabedoria. esse é o ensinamento do Zen.

Para o Zen, o que importa é a verdade, o reconhecimento visceral e não opiniões. as origens do Zen?

Saber um pouco sobre essa tradição? Por agora saiba que o Zen surgiu na Índia, amadureceu na China e iluminou-se no Japão. Mais que isso seriam palavras e mais palavras, histórias e estórias. Mas se você quiser mais dados desse caminho (ou um não caminho) leia alan Watts, ou monja Coen. Um resumo? Um agrado ao racional? Leia o texto abaixo:

Um monge pergunta a seu mestre: “Aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, por que os termos são usados para defini-lo?” O mestre respondeu: “As palavras são como um dedo apontando para a Lua: observe a Lua, mas não se preocupe com o dedo que aponta.”

Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?”
“Poderia”, confirmou o mestre, “e assim tu farás, pois ninguém mais pode olhar a Lua
por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é o eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio.”

O monge perguntou, “Por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?”

Porque”, disse o mestre, “da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela, pelo simples costume de aceitar sua existência como fato definitivo, assim também os homens não observam a verdade já revelada, pelo simples fato de ela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais que o necessário.”
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente
apontou para a Lua.
Tam Hao Van

Entenda que o Zen ensina a mais completa e absoluta aceitação da vida. Nada é eliminado, negado, negligenciado da totalidade. Zen é o dizer sim para a existência e reconhece, como disse Keyserling: “ser aquele que diz sim para o pior mal do mundo, pois sei que sou uno com ele”.

O Zen foi a jornada final de muitos acadêmicos, filósofos, dos buscadores (ou achadores) que carregam todos os tipos de informações e conhecimentos espirituais em sua mente. Zen é o repouso para os que cansaram do peso de suas bagagens culturais, emocionais, dos seus ciclos de repetições e de todo conhecimento intelectual.

Zen é prático. Sua vivência é no dia a dia. a Presença em ação, a consciência da sua natureza infinita em todas as situações mundanas ou sagradas (até porque a mente é que julga algo ser sagrado ou não). No Zen tudo é Zen. tudo é universo, tudo é no aqui e no agora que não pode ser medido (investigue isso). tudo é perceber seu coração, sua própria natureza búdica.

O paraíso é aqui, dizia mestre Dogen. isso é a visão não dualista e isso é o ápice da consciência... Zen.

Ao contrário do Zen, as tradições dualistas ensinam que existe além desse mundo, dessa dimensão, um lugar absolutamente feliz onde não há o renascer, nem a morte, dores e perdas. Um local de felicidade com primavera eterna e, através de purificações, ações, orações e santificação, será alcançado por alguns poucos.

As tradições dualistas lhe confortam.

O Zen lhe dá a verdade.

O dualismo é extrovertido e o Zen introvertido.

As tradições dualistas ensinam que há uma entidade pessoal, que o que somos é um indivíduo separado de todo o universo que nasce e morre infinitamente.

Olhar isso é sofrer, pois tudo que tem um começo tem um fim, inclusive seu corpo/mente, família, planeta, galáxia. É comum o apego a tudo que é transitório, passageiro.

A prática do Zen mostra que a sua natureza búdica é como as ondas que se movimentam por todo o universo.
Quando você se sente separado do “mar”, do aqui/agora, isso se chama sofrimento. Descobrir quem você é, é reconhecer-se como todo o oceano. Os mestres maiores do Zen andam com um cajado para simbolicamente destruir as ideias da mente/ego de um eu separado e de outras possíveis ilusões. você é um com o Um. “Esmague a casca da mente e abra suas asas no céu aberto; destrua a cabana da dualidade e more na enorme mansão da consciência; ignorância – pensamento dualístico – é o grande demônio que obstrui seu caminho. Mate-o agora e liberte-se.”
Nyoshul khenpo Rinpoche

Se o universo é o efeito e a existência é a causa, o universo deve ser a própria existência; não pode sersenão isso. Deus, natureza e alma ou a totalidade são um.

O universo, o todo, é Deus e tudo é cíclico como as ondas que vêm e vão ou assim como a aranha tece sua teia com a linha de seu próprio corpo, todo o universo, da mesma forma, vem daquele Ser. É a totalidade. É o eterno aqui (universo) e agora (tempo).

Certa vez, um discípulo questionou o mestre: “Onde está o buda?” O mestre respondeu: “Muito perto de onde saiu a sua pergunta”.

Devo adorar, portanto, apenas o meu Eu. “Eu cultuo o meu Eu”, diz o advaitista
(seguidor da tradicional escola Hindu Advaita Vedanta). “Diante de quem devo-me curvar? Eu saúdo o meu Eu? A quem devo pedir auxílio? Quem pode me ajudar, a mim, o Ser Infinito do universo?” Esses são sonhos aloucados, alucinações. Quem jamais ajudou alguém? Ninguém.
Onde virdes um homem fraco, um dualista, chorando e gemendo por auxílio vindo de cima dos céus, é porque ele não sabe que os céus também estão nele. Desejai auxílio dos céus, e o auxílio vem. Vemos que vem, mas vem de dentro dele próprio, e ele se engana supondo que vem de fora.

Às vezes, um doente jaz no leito e pode ouvir que batem à porta. Levanta-se, abre, e vê que ali não há ninguém. Volta ao leito e de novo ouve que batem. Levanta-se e abre a porta. Ninguém ali está. Por fim, descobre que eram as pancadas de seu próprio coração que lhe pareciam pancadas na porta.
Mestre Vivekananda

Não faça curvas na escalada da montanha para o encontro. Como diz vivekananda, você já é isso.

Muitos caminhos que trilhei fazem centenas de curvas ao escalar o Himalaia da consciência. O Zen ensina escalar-se diretamente.

Sua prática é vigorosa, busca-se o contato real com a totalidade agora, nesse exato momento. Insisto novamente até isso ficar tatuado em sua alma: O Zen acontece no viver consciente a todo momento. a realidade é aqui e agora. você já é o Ser perfeito, imutável, o Silêncio sem atributos.

Vários praticantes se iluminaram bebendo chá, almoçando, andando na rua, amando. O que você espera que lhe aconteça?

Sidartha, o Buda histórico, também saiu das palavras.

Quando perguntaram a Buda o que é o eu superior ele silenciou-se. também questionaram sobre deuses, vida após a morte, extraterrestres, viagens da mente e sempre a mesma resposta (ou não resposta): o Silêncio.

Palavras!

O Zen está além da linguagem,

pois nele não há ontem

Nem amanhã

Nem hoje.”

O Zen não é difícil

Para quem não tem preferências.

Não havendo ódio ou amor,

Tudo se torna claro e sem artifícios.

Faça-se, porém, a mínima distinção

E céu e terra se distanciam a perder de vista.

Se quiseres contemplar a Verdade,

não nutra opiniões contra ou a favor de coisa alguma.

A luta contra o que se aprecia e o que se desdenha é a doença da mente.”

Sosan

Wu-Wei, não ação é outro caminho que passa pelo Zen. agir sem agir ou o caminho de viver as situações sem se apegar a elas. tudo é transitório.

Se você conhece a arte marcial aikidô, reconhece ali o Wu-wei. Não há combate, não há resistência, mas sim uma forma relaxada de lidar e esquivar-se de ataques sem agredir a si ou ao suposto adversário.

Mude de direção, mas não se oponha a ela.

Não tente segurar a Lua. “Não segurar” e sim aceitar até mesmo as ilusões, mudanças, términos, aceitar que você é Um com a maldade do mundo (por mais difícil que isso seja).

Mestres Zen? Sim, muitos que apontam a Lua, mas que você deve abandonar durante a jornada.

Ó seguidores da verdade! Se quiserem obter uma ortodoxa compreensão do Zen, não sejam enganados pelos outros. Se interna ou externamente encontrarem qualquer obstáculo, eliminem-no. Se encontrarem o Buda, matem-no sem hesitação, pois esse é o único caminho para a libertação. Não fiquem emaranhados com nenhum objeto; fiquem de pé, passem adiante e sejam livres!
Suzuki

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